Em partes iguais - Carlos Bessa
Em partes iguais - Carlos Bessa
Percurso sem saída ou labirinto onde toda a profundidade é superfície e todo o conteúdo é forma, «Em Partes Iguais» assume o desconforto como princípio. Desconforto que resulta não só do confronto entre o arrebatamento religioso que as pessoas parecem sentir com as suas próprias vidas e as dores e as dúvidas que as temperam, como do diálogo entre uma poesia introspectiva e sentimental com uma outra das preocupações morais, artísticas e filosóficas.
A essa condição de friso de costumes e de retábulo de contrários, alia a de ser um livro de amor e de homenagens, ao mesmo tempo que nos deixa pressentir ecos de uma poesia que vai de Bernardim Ribeiro a Sá de Miranda, de António Nobre a Cesário Verde, de Irene Lisboa a Jorge de Sena. Abre com chave irónica, recriando um tópico clássico, o do «locus amoenus», e fecha em tom cálido e nubloso, com «Essa tanta e tanta água / com que às vezes dizemos um / amor ou sufoco que foi / não corresponder ao ódio com mais ódio.» Maneira de o poeta cantar a vida e o que o rodeia em tom baixo, escandido ao ritmo das batidas do coração.
Carlos Bessa nasceu em Viana do Castelo no ano de 1967, cresceu nos arredores do Porto e vive, desde meados de 1990, nos Açores, onde trabalha. Colabora com a secção de livros do semanário «Expresso» e tem publicados os seguintes livros de poesia:
«Legenda» (1995), «Termómetro. Diário» (1998), «Olhos de Morder Lembrar e Partir» (2000), «Lançam-se os Músculos em Brutal Oficina» (2000), «Em Trânsito» (2003).