Estrela Negra é o relato de uma transformação que teve origem na decisão que Jaroslaw Flicinski tomou em 2009 de vir viver para uma lugar chamado Esteval, entre as cidades de Faro e Loulé, no Algarve, em Portugal. Retrospetivamente, percebemos que não se tratou somente de atravessar todo o território europeu, mas de escolher um lugar de fronteira – em tempos antigos considerado o fim do mundo conhecido – suspenso entre o Mediterrâneo e o Atlântico, a Europa e África, a terra e o mar. O mar, essa grande abstração, esse infinito visual, que pauta, num hipnótico vaivém, o ritmo dos dias deste território luminoso e magnético, demandado e inscrito simbolicamente por gerações de povos migrantes, vindos das mais longínquas paragens. A exposição traz-nos um artista em estado de abertura, que lida com os fantasmas do seu trabalho colocando-se desafios de vida maiores que os desafios da arte. Neste ponto do percurso de Jaroslaw Flicinski, a mudança de lugar significou não somente uma mudança de posição mas também uma mudança de estado percetivo, de consciência de si. […] Especificamente concebida para o espaço do CIAJG e realizada in situ, a intervenção convoca os elementos estruturantes do trabalho do artista, a saber, a relação com a arquitetura, com a grande escala e a atenção ao detalhe e às ínfimas modulações do posicionamento do espectador no espaço. A singularidade da linguagem expositiva do CIAJG, em permanente articulação de constelações simbólicas, foi outro dos elementos centrais ao desenvolvimento do trabalho de Jarosław Flicinski, cuja intervenção começa ainda no espaço da coleção permanente.