Janela, Espelho, Mapa... - Rui Sanches
Janela, Espelho, Mapa... - Rui Sanches
Ao decidir analisar o meu próprio trabalho estou a colocar-me simultaneamente na posição de autor e de espectador dessa obra. Na verdade esta dupla situação existe já, de forma essencial, como parte integrante da actividade artística: durante a criação de uma obra o autor alterna momentos de total imersão na sua actividade, em que perde qualquer distância em relação ao que está a fazer, com momentos de paragem em que consegue, até certo ponto, ver «de fora» o que fez e ter uma relação crítica com a sua produção. Num ensaio que irei citar várias vezes ao longo deste texto, o historiador inglês Fred Orton afirma: «O artista é, claramente, o primeiro observador do seu próprio trabalho. Enquanto o artista faz o seu trabalho tem de continuamente aferir a sua experiência e interpretação do que está a fazer, daquilo que está a tornar realidade, com a intenção que o motivou a fazer o que está a fazer».
Esta deslocação de uma situação para outra, de autor para espectador e viceversa, é, no entanto, perfeitamente natural pois, ser um espectador não é ser um certo tipo de pessoa: significa ocupar um determinado papel. Papéis diferentes podem ser interpretados por uma mesma pessoa, no caso de um artista essa multiplicidade de papéis é uma necessidade.