Encontro Às Cegas - Pedro Gomes
Encontro Às Cegas - Pedro Gomes
O desenho é, tradicionalmente, a disciplina racional associada ao conceito, à estrutura. E, contudo, tem igualmente uma alma experimental e aventureira – iconoclasta até – e emotiva. Um certo ADN de resistência ao claro e definido e uma vontade de ir mais longe, de inventar e de investigar por dentro de si mesmo. No seu trabalho, o artista Pedro Gomes segue, com determinação, esse caminho, como se percebe na exposição Encontro às Cegas, que apresenta no MNAC.
Como um cirurgião que, de bisturi em punho, abre uma fina e precisa linha na pele do paciente para espreitar o corpo e o que ele guarda, Pedro Gomes parte da superfície, do que pensamos conhecer tão bem a ponto de já não vermos, para nos revelar aspetos insuspeitos. Fá-lo com igual determinação na incisão, como no uso do fogo ou da rigorosa geometria, como também no caminho do registo mais fugaz e indeterminado do tempo, nos seus vestígios e sombras, no apagamento e no vazio. E fá-lo dedicadamente, há quase um quarto de século, como esta exposição tão eloquentemente demonstra, nas duas séries inéditas de desenhos, realizadas em 2019 e 2020, a que se juntam séries e obras isoladas, criadas desde 1996.
[Emília Ferreira]
Apesar de o tempo não andar para trás, nem os acontecimentos do passado servirem de oráculos do futuro, a determinação da importância de diversos fatores, pormenores, ou sinais que as obras de arte consigo carregam, pode revelar que só mais tarde, num determinado momento, sem que isso seja procurado ou premeditado, esses fatores apareçam e tragam consigo uma história, uma emoção, ou simplesmente uma pequena anotação, que faz toda a diferença. Talvez neste sentido, a persistência e perseverança encontradas nas obras de arte de Pedro Gomes ao longo do tempo sejam o que desperta para outras imagens visíveis ou, o mesmo é dizer, para outro mundo.
[Hugo Dinis]