Topomorphias - Jorge Martins
Topomorphias - Jorge Martins
Textos de José Alberto Ferreira e Sérgio Mah
José Alberto Ferreira: «Criador ecléctico, inesgotável e inconformado, como lembra Sérgio Mah no belíssimo texto que escreveu para apresentar estas “geografias da forma”, na já longa carreira de Jorge Martins permanece intocada a inquirição perante o acto de pintar, a busca inquieta do pintável, do que na pintura é cor, matéria, luz e espaço.»
As obras reunidas nesta publicação foram escolhidas pelo artista seguindo um desejo prévio: o de conceber uma exposição a partir da sua produção mais recente em pintura. Algumas obras remontam ao início dos anos 2010, mas a grande maioria foi produzida após 2018, incluindo inúmeras obras realizadas durante o período do surto pandémico. É, pois, revelador que, num tempo de angústia, isolamento social e desencanto anímico, o artista não tenha esmorecido a sua verve criativa. Pelo contrário, o volume e a qualidade das obras patenteiam um fulgor inventivo que, contornando os constrangimentos do mundo exterior, compõem um imaginário pleno de luminosidade e vitalidade estética. Sendo tão diversa a sua produção artística, é prudente não nos limitarmos a considerações gerais, porque subitamente iremos deparar com algo — uma obra, um tópico, um indício — que nos conduz para uma perspectiva divergente. Importa, pois, concentrarmo-nos nestas obras convocadas pelo artista, averiguar a composição e os encadeamentos plásticos e conceptuais que animaram a sequência e a distribuição das obras pelos espaços expositivos. […] Nesta selecção de pinturas encontram-se várias obras que partem de uma nítida vontade de ocupar a superfície da tela, de a percorrer num registo mais experimental ou reflectido, visando todas as direcções de forma rápida ou lenta, através da inventariação e de pontuações de cor variada ou através de traços rectos, curvos ou ziguezagueantes. O plano da tela é pensado como uma arena propiciadora de acções, um palco aberto que espera e admite os movimentos de um corpo expressivo. E é na acção contingente, e por vezes incerta e hesitante do corpo, que se encontra a intensidade e o nível de inscrição deste gesto pictórico.
[Sérgio Mah]