Van Gogh, o Suicidado da Sociedade - Antonin Artaud
Van Gogh, o Suicidado da Sociedade - Antonin Artaud
Van Gogh apareceu à venda nas livrarias em 15 de Dezembro de 1947, quase dez meses depois de uma escolha significativa das telas do pintor ter sido exposta no museu da Orangerie, em Paris. A Antonin Artaud — saído de um longo internamento em asilos psiquiátricos, a sofrer a fase terminal de um cancro — só restariam três meses de vida. A conjunção deste factor emocional e uma grande surpresa (a atribuição, que lhe foi feita, do prémio Sainte-Beuve na categoria ensaio) talvez possam explicar a tiragem imediata de quase seis mil exemplares, êxito de público sofrível mas desconhecido até à data com uma obra do autor. Libertado, enfim, do asilo de Rodez, Artaud mostrava a sombra ressequida do actor que muitos tinham conhecido, cravava a sua faca-fetiche em mesas de cafés que lhe consentiam o espectáculo de uma agressividade inofensiva, exibia na rua grandes tempestades verbais. […] A par deste comportamento, Artaud surpreendia os mais próximos com uma lucidez transtornada, um estado de invectiva perante os «normais» alimentado por convulsões poéticas com fascínio mal conhecido na literatura. É, pois, previsível que a exposição da Orangerie surgisse a amigos seus como oportunidade de assistir à detonação deste Artaud crispado perante o desfile de corvos, céus alucinados, faces auto-reflectidas em tensão de um Van Gogh também ele acusado de loucura.
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