Diários de 1992 - Rosa do Rio
Diários de 1992 - Rosa do Rio
"Esta vontade de mostrar e esconder ao mesmo tempo faz com que estes diários se tenham de ler como um jogo em que o leitor recebe apenas breves alusões que pode transformar em pistas de um caminho a reconstruir: algumas datas, acenos breves a encontros e desencontros com os que estão mais perto ou mais longe, uma geografia particular de idas e vindas pela Europa com a África em pano de fundo. Mas mais importante do que tudo isto, indícios de grandes abalos de alma, de um longo momento de passagem em que se pedem contas ao passado, se medem forças com desejos e desconsolos, se faz frente às temíveis possibilidades do amor e da morte.
No fim deste exercício paciente de reconstrução a partir dos restos que nos são dados, muitas vezes com humor, algumas vezes com a lapidar concisão e beleza de um haiku, ficamos a saber muitas coisas: que a pessoa que se (nos) confia viveu um ano em constante movimento, passou por desejos e amores, desconsolou-se, perdeu alguém e dessa perda se demorou a refazer, teimou em não sucumbir, exorcizou recordações e hábitos, fechou algumas contas com a família e seu legado, perdeu muitas vezes paciência, aborreceu-se, procurou remédios para o seu desassossego, moldou figuras em barro, quase morreu num acidente, viajou, refugiou-se por vezes perto do mar. Deambulou, experimentou e procurou."(Pedro Elston)