Zona de Caça - Jaime Rocha
Zona de Caça - Jaime Rocha
1.
A celebração continua agora num tempo
de ervas, dentro da memória, com um cavalo
preso para sempre a uma floresta.
O segredo mantém-se iluminado pelo fogo
e os homens não sabem ainda por que
adormecem as aves quando poisam livremente
sobre o corpo nu. Foi a terra que encomendou
a sua própria morte a um deus da água para
que sobre o seu sangue nascessem violetas
brancas, do tamanho das pedras sagradas.
Tudo se passa num pântano, numa zona
de ruído onde os bichos se devoram entre si.
2.
Esse deus enviou um homem com uma adaga
e obrigou-o a caminhar por cima dos túmulos
que estão virados para o nascente. O homem
com mãos de anjo trazia um dístico mas os
seus olhos eram vermelhos como as asas e nele
havia uma danação. Porque os pássaros, à sua
passagem, entravam numa guerra sem fim. Uma
couraça cobria-lhe todo o corpo e junto aos pés
via-se ganchos, pequenos pregos saídos de uma
forja que se cravavam no dorso do cavalo e o
obrigavam a correr mais depressa do que o vento.