Perceptores: Gabrielle de Bergerac - Henry James
Perceptores: Gabrielle de Bergerac - Henry James
16,00 €
O preceptor dos antigos gregos e latinos era em geral um escravo liberto com conhecimentos suficientes para aproximar os jovens das suas letras e da sua erudição. A Idade Média, cheia de homens religiosos, preferiu neste papel os capelães. Mas a Idade de Ouro do preceptor foi a época do Renascimento. Havia, quanto a artes e a ciências, uma vontade colectiva de chegar mais alto, dando a estes mestres de casa rica um imprescindível papel. Começam depois as opiniões a dividir-se. Rousseau, que se estendeu sobre este tema no seu Émile ou de l’éducation de 1762, preconizou que era preferível o mestre «de cabeça bem formada ao de cabeça bem cheia» e, a exigirem-se ambas as coisas, houvesse mais sobre costumes e entendimento do que ciência. Mas seria preferível tudo isto sem um preceptor.
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«Gabrielle de Bergerac» conta uma história escrita por um Henry James com vinte e seis anos de idade; ou seja, da época em que ele se resolvia, perturbado por algumas hesitações, a dar à escrita um papel que a faria surgir como sua ocupação central. […] Não obstante este lugar muito do início da sua carreira literária, «Gabrielle de Bergerac» surge com uma característica que viria a tornar-se persistente ao longo de toda a sua obra, ou seja, a narrativa contada a partir de um ponto de vista associado a uma das suas personagens.
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Esta história dos começos do autor Henry James também nos mostra a sua preferida criança complexa (muitas vezes mais complexa do que os adultos da sua convivência) a primeira entre as que ele viria a criar em The Turn of the Screw, What Maisie knew ou no conto «O Discípulo» que integra este volume; crianças abandonadas pela indiferença paterna e que a outros distribuem o papel de personagens centrais da sua vida – aquelas que muitos estudiosos da obra de James reconhecem como uma inequívoca referência autobiográfica. […]
[Aníbal Fernandes]