Visão Invisível - Jean Cocteau
Visão Invisível - Jean Cocteau
«Tenho uma grande novidade triste a anunciar-te: estou morto. Esta manhã posso falar contigo porque estás sonolento, estás doente, tens febre. Entre nós a velocidade tem muito mais importância do que entre vós. Não falo da velocidade que se desloca de um ponto a outro, mas da velocidade que não se move, da própria velocidade. Mesmo um hélice se vê, faz reflexos; se lá pusermos a mão, corta. Nós não somos vistos, não somos ouvidos, podemos ser atravessados sem magoar. A nossa velocidade é tão forte que nos situa num ponto de silêncio e monotonia. Posso encontrar-te porque não tenho toda a minha velocidade, e porque a febre te dá uma velocidade imóvel, rara entre os vivos. Falo contigo, toco-te. É bom, o relevo! Ainda me lembro do meu relevo. Era uma água em forma de garrafa e que julgava tudo a partir dessa forma. Cada um de nós é uma garrafa que imprime forma diferente à mesma água. Agora, de volta ao lago, colaboro na sua transparência. Sou Nós. Vocês são Eu. […]»
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