Autópsia [poesia reunida] - José Rui Teixeira
Autópsia [poesia reunida] - José Rui Teixeira
«A poesia de José Rui Teixeira pode ser vista como uma delicadíssima soteriologia, no entanto, é ela mesma desconfiada do seu semelhante. Quero dizer, para o poeta o poema é voz tão falha quanto, também, única oportunidade de acertar, única oportunidade inequívoca de transcendência e divino. O semelhante do poema de José Rui Teixeira é Deus, essa figura sobre que precisamos de inventar tudo, desde o corpo, ao desígnio e pronúncia. Se neste poeta a ansiedade pelo divino é a constante mais visível da escrita, também é claro que a disforia inteira da vida, seu abandono e deriva, são fundamentais para entender que auscultação a Deus é esta. Como diria o autor, o estudo à luz da "teotopologia literária" levaria a crer que se Deus não for real poderá ser o poema o lugar onde ele nasce. A pergunta a que não se poderá, então, fugir, será a de saber para que se angustia o exercício do verso no parto de Deus? Que equação insolúvel está flagrada no poeta para que apenas Deus a possa resolver?
Tão assídua quanto contida, epifânica, tão abstrata quanto precisa no jogo mais meticuloso das emoções, equilíbrio brilhante entre elegância, discrição e confissão, a poesia de José Rui Teixeira torna-se uma inteligência imprecindível. Ela é a lenta, mas inteira, aposta da Pessoa. Um gesto que sabe que cada instante é um agente a matar. A matar-nos.»
Valter Hugo Mãe