Uma mulher aparentemente viva - Cláudia R. Sampaio
Uma mulher aparentemente viva - Cláudia R. Sampaio
A desarmante intimidade da poesia de Cláudia R. Sampaio coloca-nos no lugar intenso de quem parece esperar-se uma resposta. Assistimos à sua auscultação, à ansiedade pelo diálogo, sabendo bem que não é nossa a palavra que a salvaria, mas a tentação fica inteira na nossa boca. A força da sua poesia retira-nos a possibilidade de passarmos incólumes. Estamos comprometidos desde a leitura dos primeiros versos. Somos todas as pessoas que ama, que precisa de amar, e somos todas as pessoas que a magoaram ou se tornaram insuficientes. A força desta poesia não é, contudo, por confrangimento. Muito ao contrário. É pela humanidade, pela fortuna ética, pela beleza da expressão tão nua, tão sem máscaras de estilo que resulta num estilo de esplendor, naturalíssimo, cristalino.
Ou, talvez, tudo um pouco ao contrário. Quando toda a intimidade é uma deriva, tão sem rumo e sem garantia, o leitor é o lado de lá das pessoas fundamentais.
Ele comparece como útil fantasia na gestão das carências do sujeito poético. Subverter a distância entre quem escreve e quem lê foi sempre um milagre pretendido pela poesia. Este livro é, por isso, um milagre.
Valter Hugo Mãe