Und - Howard Barker
Und - Howard Barker
“A relação com o espelho. Como é que isso se explica?
Eu não sei como é que se explica. Aliás, quando uma vez o Barker veio cá e viu um dos nossos espectáculos com o texto dele e quando nós lhe perguntávamos isto ou aquilo, ele dizia: “Olha, vocês fazem o que quiserem!” Portanto, ele é um autor muito ambíguo, que tem um universo muito próprio. Já estamos com Barker, creio que estamos para lá de Brecht, de Beckett, portanto todas estas escritas contemporâneas, das ditas pós-dramáticas e portanto ele serve-se também por questões artísticas e políticas, obviamente. Ele serve-se de um leque de sinais do universo dele e que aparecem aqui. A fragmentação, a questão do espelho não é a primeira vez que aparece numa peça do Howard Barker. O espelho é sempre um elemento teatral por excelência. Temos sempre o outro lado do espelho também. Temos o real e o nem por isso. E estas ambiguidades, muitas vezes contradições, que são também outro aspecto do universo do Barker, vão aparecendo. Esta questão, por exemplo, das contradições é muito notória nesta peça. Há criados ou não há criados? Estão mesmo a tocar à campainha ou é ela que está a fantasiar? A uma dada altura dos ensaios falava sobre isso. Há coisas que ela diz que me parece que são concretas, que são fisicamente verdadeiras e acho que há outras que ela ficciona ou para a frente ou para trás, para o passado. Se ele existe ou não, sabermos se ele está vivo ou não, se ela o inventou. Há aqui uma espécie de intriga. Fica tudo muito em aberto. Aquilo que para nós é importante, é evidentemente esta questão do trauma que lhe fica de um assunto e de um tema muito complicado na nossa história. Acho que essa questão é a mais relevante para nós.”
Maria do Céu Ribeiro - atriz