Um dia tudo isto será meu [uma antologia] - João Habitualmente

15,50 €

Há na poesia de João Habitualmente uma impressão de ironizar tudo em favor de certa nostalgia. Não é imediato. Vamo-nos inteirando de seu espírito lentamente, disfarçado como está numa contida desgraça também cómica.

Pode acentuar-se nos poemas em que as moças, a palha e os campos seguem um imaginário algo antigo. Sabemos das aldeias como do lugar onde a verdade morreu.

O jeito de Habitualmente é muito específico. Produz um efeito quase mal-educado, um impropério ou modo de se marimbar, que fere os poemas na sua rama mais lírica, por vezes meio romântica, a prometer desfechos bem comportados que nem sempre se consumam.

Temos constantemente a sensação de o poema ser devorado pelo golpe do que não se domina, uma inclinação para que se diga de modo armado, perigando a condição do poeta e denunciando a desfaçatez do mundo. Todas as figuras são dignas de serem, a um tempo, maravilhosas e terríveis. Todas podem tornar-se risíveis.

É talvez o traço mais constante da poesia de João Habitualmente, a assunção da falha. Algo que poderia ser imaculado mas que, por azar da extrema realidade, se vulnerabiliza. Como aquela história da educação. Tem tudo para ser irrepreensível, de uma cultura e elegâncias inestimáveis mas, aqui e ali, não contém a limpidez do protesto. A limpidez da catarse. Fá-lo brilhantemente. Protesta, insulta e ama brilhantemente.


por Valter Hugo Mãe, coordenador da coleção elogio da sombra.

Adicionar ao carrinho

Há na poesia de João Habitualmente uma impressão de ironizar tudo em favor de certa nostalgia. Não é imediato. Vamo-nos inteirando de seu espírito lentamente, disfarçado como está numa contida desgraça também cómica.

Pode acentuar-se nos poemas em que as moças, a palha e os campos seguem um imaginário algo antigo. Sabemos das aldeias como do lugar onde a verdade morreu.

O jeito de Habitualmente é muito específico. Produz um efeito quase mal-educado, um impropério ou modo de se marimbar, que fere os poemas na sua rama mais lírica, por vezes meio romântica, a prometer desfechos bem comportados que nem sempre se consumam.

Temos constantemente a sensação de o poema ser devorado pelo golpe do que não se domina, uma inclinação para que se diga de modo armado, perigando a condição do poeta e denunciando a desfaçatez do mundo. Todas as figuras são dignas de serem, a um tempo, maravilhosas e terríveis. Todas podem tornar-se risíveis.

É talvez o traço mais constante da poesia de João Habitualmente, a assunção da falha. Algo que poderia ser imaculado mas que, por azar da extrema realidade, se vulnerabiliza. Como aquela história da educação. Tem tudo para ser irrepreensível, de uma cultura e elegâncias inestimáveis mas, aqui e ali, não contém a limpidez do protesto. A limpidez da catarse. Fá-lo brilhantemente. Protesta, insulta e ama brilhantemente.


por Valter Hugo Mãe, coordenador da coleção elogio da sombra.

Há na poesia de João Habitualmente uma impressão de ironizar tudo em favor de certa nostalgia. Não é imediato. Vamo-nos inteirando de seu espírito lentamente, disfarçado como está numa contida desgraça também cómica.

Pode acentuar-se nos poemas em que as moças, a palha e os campos seguem um imaginário algo antigo. Sabemos das aldeias como do lugar onde a verdade morreu.

O jeito de Habitualmente é muito específico. Produz um efeito quase mal-educado, um impropério ou modo de se marimbar, que fere os poemas na sua rama mais lírica, por vezes meio romântica, a prometer desfechos bem comportados que nem sempre se consumam.

Temos constantemente a sensação de o poema ser devorado pelo golpe do que não se domina, uma inclinação para que se diga de modo armado, perigando a condição do poeta e denunciando a desfaçatez do mundo. Todas as figuras são dignas de serem, a um tempo, maravilhosas e terríveis. Todas podem tornar-se risíveis.

É talvez o traço mais constante da poesia de João Habitualmente, a assunção da falha. Algo que poderia ser imaculado mas que, por azar da extrema realidade, se vulnerabiliza. Como aquela história da educação. Tem tudo para ser irrepreensível, de uma cultura e elegâncias inestimáveis mas, aqui e ali, não contém a limpidez do protesto. A limpidez da catarse. Fá-lo brilhantemente. Protesta, insulta e ama brilhantemente.


por Valter Hugo Mãe, coordenador da coleção elogio da sombra.