Breve História da Sombra - Victor Stoichita
Breve História da Sombra - Victor Stoichita
Neste ensaio, Victor I. Stoichita segue o percurso de um tema central da cultura visual do ocidente e um dos desafios técnicos e simbólicos mais persistentes da história da arte e das imagens: a representação e o significado das sombras. A representação da sombra é tão antiga quanto a própria arte. Já na lenda inaugural de Plínio, o Velho, se conta que uma jovem rapariga traçou sobre um muro a sombra do homem que amava, antes que ele partisse para uma longa viagem. Esta narrativa é significativa da dialéctica da presença/ausência na qual se traduzem as subtis relações entre a necessidade das imagens e a expressão das emoções, manifestações próprias do desejo e da condição humana. Ao considerar os fundamentos da sombra, desde a Antiguidade grega até à contemporaneidade, ao interpretar os mitos clássicos, e a concepção medieval e renascentista, ou ainda, os contos populares e de fadas, ao percorrer os textos de Cenninni e Vasari, de Lavater e de von Chamisso, ao analisar obras de van Eyck, Poussin, Malevich, de Chirico, Picasso e Warhol, mas também o cinema expressionista alemão, a fotografia e a psicologia infantil, o autor interpreta não só uma vasta iconografia da sombra, e a história dos princípios fundadores da arte – através da figura do autorretrato, da silhueta e do duplo –, como também os processos subjetivos da identidade e da alteridade dos indivíduos. Em contraposição ao «estado do espelho» de Lacan, emerge assim um «estado da sombra» que configura na presença carnal e no desaparecimento da figura nas artes a irrefutável e evanescente presença do corpo, sintomática da sua condição imaterial e psíquica.