Llansol e Spinoza: Uma Estética Literária Para A Geometria
Llansol e Spinoza: Uma Estética Literária Para A Geometria
Espinosa constitui um nome matricial da escrita llansoliana, não simplesmente porque a escritora acolhe o filósofo no seu texto e com ele estabelece uma relação que não tem fim, mas sobretudo porque o texto llansoliano é, desde sempre, atravessado por uma dinâmica relacional entre as figuras que o habitam e as vozes que o enunciam, que se aproxima de forma inaudita do pensamento espinosiano, não somente na sua formulação acabada, digamos, mas também no seu modus operandi, na construção de elos de sentido improváveis a partir de um discurso simples e claro. O encontro com Espinosa, neste sentido, descreve-se como o reconhecimento de uma afinidade, de uma intellegentia comum, que depressa se acolhe e figura no texto llansoliano. Compreende-se, por isso, que nos anos de gestação da sua segunda trilogia, «O Litoral do Mundo», tempo que coincide com o início da leitura mais sistemática do filósofo, a escritora anote num dos seus cadernos: «Com Spinoza sucede uma coisa estranha: mal me aproximo dele, do seu texto, suas ideias, que se distinguem de palavras e imagens, são suficientes para que se defina claramente no meu campo de trabalho toda uma sequência descritiva.» (13 de Janeiro de 1981; Espólio de M. G. Llansol, Caderno 1.10, pp. 49-50).
João Barrento in “Pórtico”
Organização de Cristiana Vasconcelos Rodrigues e João Barrento
Com 12 ilustrações de Pedro Proença